terça-feira, 20 de outubro de 2009

"Aline" e HQs na TV


Quando, ainda em 2008, saiu a notícia de que “Aline” seria um dos especiais de fim de ano na Globo, não pude deixar de pensar em “Radical Chic”. A personagem de Miguel Paiva foi protagonista de uma atração que mesclava dramaturgia e game num formato bem interessante, porém de vida curta. Isso foi numa época em que a Globo sofria tentando emplacar uma atração juvenil. Não conseguiu, mas “Radical Chic” marcou a estreia de Maria Paula no plimplim e muitos ainda devem associar a personagem com Andréa Beltrão.

A atriz encenava pequenas tramas que retratavam bem os conflitos que Radical Chic vivia em suas HQs, publicadas em revistas e jornais. A personagem é sinônimo de mulher na faixa dos 30 anos, moderna, descolada e solteira, personificando um tipo que surgiu com a liberação feminina. Radical na TV não destoava muito do que era visto nas HQs, até porque o formato do programa permitia que houvesse uma adaptação mais fiel. Mas o que aconteceria se “Radical Chic” fosse protagonista de um seriado semanal com meia hora de duração?

A ideia é boa, não é? Mas foi “Aline”, de Adão Iturrusgarai, que chegou à frente. A personagem de cartum ganhou carne e osso através da atriz Maria Flor numa adaptação de Mauro Wilson. A série deu uma “suavizada” na personagem para adequá-la à televisão, mas manteve algumas características básicas, como sua relação com os namorados, Otto e Pedro. O resultado foi uma série de ritmo interessante, com estética claramente calcada na atmosfera de HQs e um humor histriônico e non sense bastante voltado aos jovens.

A série é mais uma aposta da Globo no intuito de diversificar sua linha de shows. E, mais uma vez, mostrou-se uma aposta acertada. Deve demorar um pouco para a emissora lançar uma nova febre no formato seriado, como foi com “Os Normais”. Não vai ser com “Aline” que isso acontecerá. No entanto, a série permite a experimentação de uma nova linguagem numa TV que peca, muitas vezes, pelo conservadorismo. Não que “Aline” seja inovador: não é. Até comparações com “Armação Ilimitada” acontecem. Porém, esta última foi inovadora, marcou gerações e ofereceu uma nova linguagem juvenil que parece esquecida hoje em dia. O que a Globo produz para jovens hoje em dia? “Malhação”? E o que “Malhação” herdou de “Armação Ilimitada”?

Obviamente, não adiantaria apenas “clonar” “Armação Ilimitada”, já que os tempos são outros e os jovens também. Porém, “Aline” acerta ao justamente tentar fugir do óbvio e buscar um novo público, que vem abandonando a televisão. Para que uma nova febre aconteça, no entanto, é preciso compreender os anseios desta nova geração. E uma solução criativa é justamente buscar inspiração nos quadrinhos.

A TV americana já apostou em várias adaptações de quadrinhos. Se lá existe a tradição de HQs de super-heróis, eles também atacam na TV e no cinema, devidamente adaptados para cada veículo. No Brasil, a tradição em quadrinhos é menor: somente o infanto-juvenil “Turma da Mônica” tem mais expressão nas nossas bancas. Mas temos cartunistas geniais, que podem inspirar nossa TV. Adão Iturrusgarai e Miguel Paiva são só dois exemplos. E até mesmo a volta dos personagens de Mauricio de Sousa à TV aberta seria uma bela solução à parca atual programação infantil nacional.

Séries em Série é a coluna assinada por este jornalista, publicada todas as terças-feiras no portal Tele História (http://www.telehistoria.com.br/).

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