quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Impressões de "Aline" e "Norma"


A Globo é a emissora aberta que mais dá espaço às séries próprias. Isso é bom, já que a emissora gosta do formato para fazer experiências. Nem sempre o retorno de audiência é o que os padrões da rede exigem, mas não há dúvidas que são nesses pequenos espaços onde roteiristas e diretores podem ousar mais que nas telenovelas que surgem as tais inovações. Foi assim que surgiu "Os Normais" que, apesar de já ter saído do ar há seis anos, segue numa carreira vitoriosa no cinema. Vale lembrar a grande contribuição para a linguagem televisiva moderna que programas como "Armação Ilimitada", por exemplo, proporcionaram.

Dito isto, percebemos que houveram duas tentativas de fugir do óbvio com as estreias das séries "Aline" e "Norma". Em comum, as duas produções usam da comédia como divertimento. E, claro, levam o nome de suas protagonistas. E só. São duas produções diferentes feitas para públicos diferentes.

"Aline" busca ser moderninha, embora esbarre em limitações que são verdadeiros tabus na televisão. Afinal, quem conhece a Aline das HQs (personagem de Adão Iturrusgarai no qual a série se baseou), sabe que a Aline da TV é um anjo perto desta outra. Apesar de o roteiro deixar claro que a protagonista tem dois namorados, a relação vista na prática mais se assemelha à convivência de três amigos. Mas essa é uma cobrança boba, já que não há a necessidade de haver a comparação entre a Aline da TV e das HQs. Elas são diferentes e estão em mídias diferentes e conversando com públicos distintos.

Se deixarmos de lado a Aline das HQs (e se os conservadores mais ferrenhos relaxarem e perceberem que a série nada mais é que uma diversão fictícia), encontramos vários trunfos em "Aline". A interpretação propositalmente exagerada, cores fortes, cortes e diálogos rápidos são os trunfos da série, embora já não seja uma novidade, pois a mesma "Armação Ilimitada" abusava da edição mais "videoclíptica". No entanto, não há na grade atual programas com esta linguagem, então "Aline" preenche uma lacuna de um público carente de novidades de fato. Além disso, a série conversa com um público jovem sem tratá-lo como um idiota, fato bastante comum em produções do gênero. É gostoso, é divertido e rende boas risadas, sem maiores comprometimentos. Maria Flor (a Aline) à vontade, e seus partners igualmente: Pedro Neschling (o Pedro), que sempre apresentou desempenho mediano em TV, está divertido; Bernardo Marinho (o Otto) já mostrou desenvoltura quando contracenava com Angélica no infantil "Bambuluá" e agora ressurge mais velho e mais maduro artisticamente. O trio é ótimo! Destaque para Daniel Dantas e Malu Galli, os divertidíssimos pais de Aline.

Se "Aline" acertou a mão, o mesmo não se pode dizer de "Norma". A série é ótima na premissa: uma pesquisadora indecisa precisa da ajuda da audiência para resolver que atitude tomar. Mais que um "Você Decide", onde só se havia duas opções de final, desta vez a participação do público influi em toda a trama, seja através de debates com a plateia ou com a participação dos internautas no site do programa. Quando se fala de TV digital, as emissoras tateiam em busca de qual formato de programa interativo mais se "encaixa" em tempos de web 2.0. Uma proposta cheia de boas intenções mas, na prática, fica devendo.

Primeiro, porque Denise Fraga, ao se despir de Norma e virar uma espécie de apresentadora, não consegue manter o pique e se perde em meio às opiniões da plateia. Além disso, ao menos no primeiro episódio, o que foi visto foi um debate manjadíssimo sobre a separada que não sabe como agir em seu primeiro encontro. Situação previsível com respostas mais previsíveis ainda. Ou seja, o público opinou e deu as velhas sugestões de sempre. Um roteirista não poderia encontrar saídas menos óbvias? Poderia. Assim, a interatividade de "Norma" perde seu sentido. "Norma" é um programa de premissa moderna, mas de execução conservadora. Porém, pode melhorar se melhorar a qualidade dos temas e dos debates.

Mesmo que "Norma" ainda não tenha dito a que veio e "Aline" ter mostrado ser um bom entretenimento, é sempre válida a busca de novas linguagens na televisão brasileira. Afinal, tentando se erra muito. Mas também se acerta.

TV Aberta em Série: Publicada toda quarta-feira.

Um comentário:

Britto disse...

Excelente artigo! Fico feliz de ver a Globo inovando. Ou pelo menos tentando... Que novos projetos continuem dando certo!