A lambança histórica da RedeTV

Cadê "Desperate Housewives"? Com que direito a RedeTV nos brinda com uma das mais bacanas séries de humor, drama e mistério de todos os tempos e depois nos tira a satisfação de acompanhar os lances de Wisteria Lane nas noites de domingo? A exibição desta série na TV aberta foi uma das estratégias mais equivocadas que eu já vi desde que comecei a escrever sobre televisão!

Pra quem não se lembra, vamos refrescar a memória: em 2006, a RedeTV anunciou parceria com a Disney para a produção de uma versão nacional do grande sucesso "Desperate Housewives". A Disney havia fechado com a Pol-Ka, produtora da Argentina, um acordo de produções de diferentes versões da criação de Marc Cherry para países latinos. A produtora argentina, assim, construiu cenários, figurinos e equipes para que todos os países envolvidos nesta grande produção, através de emissoras parceiras, montassem seu elenco e fizessem as devidas alterações no roteiro para suas próprias versões deste sucesso. No Brasil, a emissora a entrar neste pool foi a RedeTV, que nunca escondeu a vontade de entrar de vez na dramaturgia com séries de qualidade. Parecia a maneira ideal de se começar.

Porém, a produção da versão nacional atrasou. E a emissora, que já tinha fechado com a distribuidora Buena Vista, da Disney, optou por ir exibindo a versão original de "Desperate Housewives". Assim, no segundo semestre de 2006, a série que já chamava a atenção no canal Sony, debutava na TV aberta e conquistava uma nova leva de fãs. A audiência nunca foi estrondosa, mas era boa para os padrões do canal e não era raro encontrar "Desperate Housewives" na lista dos cinco programas mais vistos da emissora. O Brasil finalmente conheceu as divertidas e belas donas de casa de Wisteria Lane: Susan, Lynette, Bree, Gabrielle e Edie chegaram e agradaram. Não poderia ser diferente: a série possui uma bela trama, numa mistura bem dosada de diferentes elementos, capaz de arrancar risos, lágrimas e medo do espectador num único episódio. A primeira temporada da série, sem dúvidas, foi uma das melhores coisas já vistas na TV mundial.

A emissora "que mais cresce" engatou o primeiro com o segundo ano e o Brasil pôde ver na TV aberta o novo mistério da trama. E aquela versão nacional, que parecia esquecida, voltou a ganhar espaço no noticiário televisivo. O segundo semestre de 2007 marcou a estreia de "Donas de Casa Desesperadas". Muito bem produzida, com elenco interessante, mas que soava falso, pois era "americanizado" demais. O bairro de Arvoredo simplesmente não existia no Brasil. E os coadjuvantes, atores argentinos, foram dublados, o que aumentou o clima "fake" da produção. A série terminou com uma única temporada e um gancho poderoso que jamais terá uma conclusão, deixando a ver navios os telespectadores que acompanharam o seriado.

Aí eu te pergunto: qual era a razão desta estratégia equivocada? Se a emissora tinha intenção de produzir uma versão nacional, por que cargas d'água optou por exibir a versão original antes? Ora, o mistério é um dos charmes da série, e a rede o desfez antes mesmo de estrear sua série! Se a ideia era uma versão nacional, a RedeTV jamais deveria ter exibido a versão americana. Não só quebrou o mistério como deu margem à comparações, o que chega até a ser injusto. E se já exibiu duas temporadas da série americana, por que interrompeu a exibição? O público da TV aberta brasileira não tem o direito de acompanhar o terceiro, o quarto e o quinto ano, já exibidos na TV paga? Se não tem interesse em exibir a série toda, então não comece! É melhor!

Enquanto isso, o SBT exibe séries também distribuidas pela Buena Vista, como "Ugly Betty", "Grey's Anatomy" e "Eu, a Patroa e as Crianças". Seria muito bom se a emissora também adquirisse "Desperate Housewives" e a trouxesse de volta à TV aberta. Aproveite e faça uso da sugestão de adquirir "Brothers & Sisters", também da Buena Vista, e pronto! Seria uma grade e tanto!

TV Aberta em Série: Publicada toda quarta-feira.